Crónica de una muerte anunciada

Entre todos lo mataron y solo se murió.
Este es un libro en el que no importa el "cómo", sino el "por qué".
Emparentada con "El túnel" de Ernesto Sábato, ambos autores generan el spoiler en las primeras líneas, develando el asesinato.
Sinceramente, no pude dejar de leerlo, de un tirón, hasta el final. Y es precisamente ese final, de la manera que Gabo lo narra, lo que shockea al lector.
Parece que uno está sintiendo las puñaladas, viendo la sangre, sintiendo el desgarro...
Edgar Allan Poe dijo una vez que "todas las obras de arte deberían empezar por el final".
Esta novela es una digna prueba de ello.

Even if I already knew the ending, I couldn't help but breathlessly hope that someone would be allowed by providence to save Santiago Nasar - such an exquisite narrator is Márquez.

There’s a kind of cheap thrill to dishing out one star to a Nobel prize winner and a guy I previously gave 5 stars to for the brilliant One Hundred Years of Solitude, but it has to be done because on a sentence by sentence level this this thin story in a thin book is as dull as ditchwater which has lost the will to live, all about some honor killing but of a guy not a woman, the alleged deflowerer of a returned bride. Yeah, we are in a society where if the bride isn’t a virgin she’s returned – “this one’s secondhand, I ordered new, I want my money back”, so the brothers of the unfortunately-all-too-consummated sister go and shoot the alleged deflowerer. I didn’t care who shot who or how many chickens were cooked or how or what the dress looked like or why or how many complicated street festivals there were for who knew what obscure saints and who saw who do what at 3.32 on the fateful afternoon or which sisters of which family were able to levitate and how many times the brothers told everybody and his uncle and his uncle’s uncle that they were going to shoot Santiago Nasar and when and how and where and which and why nobody called the cops and all this and that. But that's just me, I hope you like it.

"Crónica de uma Morte Anunciada" (1981) pode ler-se como crónica, relato de eventos ocorridos, como o próprio título sugere, mas se melhor analisado poderemos ver que é um trabalho de narrativa experimental, como muito bem identifica Jane Alison na sua análise em "Meander, Spiral, Explode" (2019). Alison diz-nos que Márquez não conta uma narrativa linear, cronicando os eventos na sua ocorrência cronológica, mas antes o faz por meio de uma narrativa radial, expondo múltiplos elementos ao redor do evento e em direção ao clímax (ver imagem abaixo). À medida que ia lendo, fui concordando com Alison, e se tentei em parte compreender porque Márquez o fez, centrei-me mais em tentar perceber porque funciona para nós enquanto leitores.

[imagem - https://virtual-illusion.blogspot.com...]
Estrutura narrativa radial, uma proposta de Jane Alison


Se o relato dá conta de um assassinato consumado, logo nas primeiras páginas ficamos a saber: quem morreu e quem assassinou, assim como quando e porquê; ficando pouco para atiçar a curiosidade de quem lê, e no entanto seguimos atrás de Márquez sem qualquer problema, lendo sofregamente tudo, tentando entrar na cabeça de cada personagem que nos propõe, tudo para descobrir mais e mais sobre o "como"; porque é apenas isso que nos falta para fechar a história que se conta.

[imagem]
Mapa dos eventos de "Crónica de uma Morte Anunciada", criado pelo internauta JJ Marquete. Aqui podemos ver como todos os personagens e todos os eventos se ligam de forma centrípeta em relação à personagem principal de Santiago Nasar, o morto.


Enquanto lia, e tendo em conta o design da narrativa, fui-me sentido como no meio de uma pequena aldeia, ouvindo tudo e todos, aprendendo mais e mais sobre o como aconteceu. O crime é algo que nunca para de nos atrair, por mais que a nossa consciência tente dizer-nos que não nos diz respeito, é difícil passar ao lado de um acidente sem tentar olhar. Mas não é pela morbidez, na verdade o mesmo acontece quando o acidente não envolve feridos ou mortes, como um simples assalto. Por isso, o que temos é no fundo uma perturbação do estado das coisas, do padrão de normalidade, e a nossa ânsia ativa-se para perceber o que produziu essa alteração no padrão: o quê, quem, quando, porquê e claro como.

Inevitavelmente, isto prende-se com a nossa insaciável vontade de aprender, porque, evolutivamente, sobrevivemos melhor quanto melhor estivermos preparados, não só para lidar com os problemas, mas também para os antecipar e prever, medindo o alcance das suas consequências e evitando os seus potenciais danos.

E é disto que Márquez se aproveita, como no fundo aproveitam as histórias que se contam sempre, mas neste caso Marquez torna essa nossa avidez muito mais evidente porque poderíamos dizer que já sabíamos tudo o que havia para saber, contudo verificamos que assim não é, que à medida que as pessoas vão falando, vamos apreendendo dados desconhecidos sobre o sucedido e isso mantém-nos engajados, tentando encaixar os novos dados no modelo que já construímos sobre o que aconteceu e tentando compreender se se altera ou não a nossa perspectiva. Como se estivéssemos a tentar chegar a uma espécie de certeza absoluta sobre o sucedido. Enquanto o criador conseguir apresentar novos dados sobre o evento que possam de algum modo transformar o modo como pensamos que tudo aconteceu, a nossa atenção mantém-se e o interesse não desaparece.

Publicado no VI:
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_Chronicle of a Death Foretold_

oh God, I love Marquez

Chronicle of a Death Foretold is a non-linear telling of the murder of Santiago Nasar. A man returns to the town where the baffling murder occurred twenty-seven years ago and is determined to figure out exactly what happened all those years ago. But his investigation is complicated by the realization that all of the townspeople somehow were complicit in the crime. After talking to many, he begins to realize that the townspeople each had had some kind of foreshadowing but did not intervene, oftentimes because of some misunderstanding. Gabriel Garcia Marquez is a master storyteller as well as a premiere journalist, so as you might imagine, this novella is a compelling piece of Latin American literature.

"Many people coincided in recalling that it was a radiant morning with a sea breeze coming in through the banana groves, as was to be expected in a fine February of that period. But most agreed that the weather was funereal, with a cloudy, low sky and thick smell of still waters, and that at the moment of misfortune a thin drizzle was falling like the one Santiago Nasar had seen in his dream grove."

usually when i read garcia marquez i love it at first but then it just keeps circling and circling and eventually my brain shuts down and i pass out, but this time it just kept building and building and by the time i hit the end i thought i was going to explode. just one of the tensest and most mysterious books i've ever read in my life. also it was nice because i always read about marquez talking about how much he loves kafka but then i never see it in his books; this time around it was all right there, it all made sense and yet was its own thing. just marvelous. i feel like i finally broke through some kind of wall and now can handle the whole marquez thing.

Then they both kept on knifing him against the door with alternate and easy stabs, floating in the dazzling backwater they had found on the other side of fear.

So wading my way through my 10-book Gabriel García Márquez collection and having read 4 and given them each 2 stars or less - this is where perseverance finally gets of its ass and rewards me, as undeterred, I read this and lo and behold, I really enjoyed it!

Why? One word - storytelling! This is just a wonderfully immersive and captivating story, of a death foretold! Now my Gabriel García Márquez curse is broken I hope the dam is bust and that my mind now 'gets' his work. A well deserved 8.5 out of 12.

2007 read