Os nobres espadachins do meu imaginário, revelaram-se (exceção feita a Athos, o meu favorito) uns jovens impulsivos, inconstantes, bastante gabarolas, comilões, bebedolas, vingativos e… surpresa das surpresas, uns verdadeiros gigolôs. Mais surpreendente ainda, é o cunho de normalidade que Alexandre Dumas dá a toda esta situação, e a forma como este livro se tornou um clássico juvenil.
OK, os rapazes também têm qualidades: são corajosos, fieis às amizades, erh… já disse que eram corajosos? E fieis às amizades? Pois, é basicamente isso. Pronto, o Athos destaca-se também pela ponderação, inteligência e sangue frio e - justiça lhe seja feita - não se prostitui a troco de dinheiro, não persegue mulheres casadas, nem promete amor eterno a cada rapariga bonita com que se cruza, para em seguida a desprezar e trocar por outra. Mas afoga as mágoas em vinho, o que também não é propriamente um exemplo a seguir.
Não quero cair na armadilha de julgar um livro escrito no séc. XIX pelos padrões do séc. XXI, o que seria injusto e imbecil. Ainda assim, não consigo deixar de encontrar contradições nestas personagens, ora defensoras da honra e capazes de atos valorosos, ora prontos a ir contra princípios muito básicos de honestidade e respeito por si próprio. As mulheres, como seria de esperar, não são particularmente bem tratadas...
A história, essa, é empolgante, cheia de intrigas, mistério e suspense e lê-se muito rapidamente e com agrado, apesar do grande número de páginas. Por outro lado, isto é feito à custa da caracterização das personagens, que é bastante superficial, eu diria mesmo quase uma caricatura.
Um elemento interessante, é o relato de alguns acontecimentos históricos (como o cerco de La Rochelle) e o facto de a história se basear em várias personagens reais (a começar pelos próprios mosqueteiros), embora o autor tenha dado largas à imaginação e inventado quase tudo...
São três estrelas e meia, arredondadas para baixo, porque foi uma leitura agradável, mas com muitos senãos.