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O jovem Philip Roth, com os seus pais - Herman e Bess - e o seu irmão Sandy, no pátio da sua casa em Newark, New Jerseyt
”O medo preside a estas memórias, um medo perpétuo.” (Pág. 11)
O narrador de ”A Conspiração Contra a América/The Plot Against America” (2004) é o próprio Philip Roth (n. 1933) com sete anos de idade, um rapaz normal que tem a paixão de coleccionar selos e vive com os seus pais, Herman e Bess, um agente de seguros e uma dona de casa, juntamente com o seu irmão mais velho, Sandy, com doze anos de idade, um jovem com um talento prodigioso para desenhar; e que moram no bairro judeu Weequahic, em Newark, New Jersey - ”Em 1940 éramos uma família feliz. Os meus pais eram pessoas sociáveis e hospitaleiras (…)” (Pág. 12).
Charles A. Lindbergh é considerado como um herói americano porque fez no seu monoplano Spirit of St. Louis na Primavera de 1927 o voo sem escala e a solo, de trinta e três horas e meia, de Long Island para Paris e que, mais tarde, ganhou a compaixão e a simpatia dos americanos porque o seu primeiro filho, um bebé com vinte meses, tinha sido raptado e assassinado ou morto acidentalmente, por um ex-presidiário alemão, Bruno Hauptmann, que vivia no Bronx. Depois do julgamento, os Lindbergh deixaram a América e expatriaram-se para a Europa, fazendo sucessivas viagens à Alemanha Nazi, exprimindo Lindbergh o seu elevado apreço por Hitler – sendo inclusivamente condecorado em nome do Fuhrer, chamando ao seu líder “um grande homem”.
”Depois os Republicanos designaram Lindbergh e tudo mudou.” (Pág. 15) – disputando em 1940 a presidência com o actual Presidente, o democrata, Franklin Delano Roosevelt (FDR).
Inexplicavelmente, ou talvez não, Charles A. Lindbergh obtém uma vitória esmagadora sobre Franklin Delano Roosevelt e tudo muda para milhões de famílias judias norte-americanas. Para o jovem Philip Roth ”Lindbergh foi o primeiro americano famoso vivo que aprendi a odiar (…)” (Pág. 18).
A genialidade e a fluidez da escrita de Philip Roth reside, essencialmente, na forma como a narrativa e o enredo, independentemente, da questão “histórica”, reflecte magistralmente o tempo em que foi escrito e o período temporal em que decorre, num relato que encerra o dramatismo próprio dos acontecimentos quotidianos descritos, sobretudo, as imagens e os sons, e as vivências dos pequenos núcleos familiares unificados nos bairros habitacionais dos subúrbios de Newark, no estado de New Jersey.
Mais do que a realidade biográfica dos intervenientes o que é relevante é que o escritor Philip Roth permanece como um homem fascinado pela família, pela estrutura familiar, como um factor fundamental e determinante para a consistência e a estabilidade emocional, superando os pequenos e os grandes dramas familiares, numa temática mais relevante do que nunca, conjugando a ironia e o humor como forma de aceitar ou rejeitar a imposição das novas regras, nem sempre perceptíveis na mente de um jovem de sete anos de idade.
”Conspiração Contra a América” é um excelente romance histórico ou uma “história alternativa”, uma obra sombria e aterrorizante, em que decorridos mais de dez anos sobre a sua publicação, mantém e acentua a sua actualidade, destacando-se a fragilidade da democracia americana, a ameaça permanente às liberdades civis e à segurança interna e externa, com destaque para a injustificada violência inter-racial, a segregação e a marginalização das minorias, a brutalidade policial; em que é inevitável o paralelismo com a nomeação do republicano Donald Trump para disputar a eleição presidencial norte-americana.
Como é que um passado imaginado pode ser convertido num presente ou num futuro desastroso? Vamos ver o que acontece a 8 de Novembro de 2016.
Imagem da revista/site Forward
Sem dúvida que Philip Roth é um dos maiores romancistas americano, vencedor do Prémio Pulitzer para Ficção em 1998 pelo genial romance ”Pastoral Americana”, eterno candidato a receber o Prémio Nobel da Literatura - surge em 2016 como um dos favoritos numa casa de apostas com uma relação de 8/1 - será que é desta?