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Esse é o mais recente livro do Nabokov publicado no Brasil. A Alfaguara tem lançado ao longo dos últimos anos diversas obras do autor russo. Esse Dom, escrito entre 1935 e 1937, foi a última obra que ele escreveu em russo. Esse é o primeiro livro que leio dele. É um livro denso, cheio de detalhes, com enormes descrições.
O narrador se alterna sem aviso e com frequência entre a primeira (e com fluxo de consciência) e a terceira pessoa. Muito experimentalismo. Fiquei curioso para saber o quanto Nabokov leu de Joyce. Uma dificuldade a mais. Exemplos escolhidos ao acaso dessa mudança de narrador:
"Esses nomes me eram desconhecidos. Não senti nenhuma vontade de passar noites na companhia de Vsevolod-Romanov..." (70) (Isso é Fyodor pensando) e pouco depois "Fyodor, de camiseta e tênis sem meias, passava a maior parte do dia em um banco azul no jardim público, um livro nos dedos bronzeados (71)
"Olhando por uma abertura de vidro, contra um fundo luminoso, ele viu suas próprias falanges escuras, nitidamente separadas. Com isso, com isso eu desembarco. Da barca de Caronte. Calçando também o outro pé, ele caminhou pelo carpete até o fim da loja e voltou, olhou de lado no espelho que ia até a altura do tornozelo e refletia tanto seu passo embelezado quanto a perna da calça, agora parecendo o dobro da idade que tinha"
O Capítulo Um se passa em Berlim, nos anos 1920. O personagem principal é um poeta russo no exílio em Berlim: Fyodor Godunov-Cherdyntsev. Ele lança um livro de poesias que trazem recordações da infância.
Os poemas entremeiam as lembranças, que se alternam com a resenha do livro de poemas, ao mesmo tempo em que o narrador-personagem está mudando para uma nova casa, em uma nova rua.
"Ao lê-los, ele os leu não só como palavras, mas como fretas entre palavras, como se deve fazer ao ler poesia?" (39)
O capítulo se mostra mais interessante a partir da reunião na casa de Chernishevski. O suicídio do jovem Yasha, filho do casal Chernishevski é impressionante.
Capítulo Dois: Lembranças da infância na Rússia. Quatro páginas bem difíceis, bem descritivas, até que ele sai do sonho e se vê novamente em Berlim, em um bonde, indo para uma aula. Depois, a mãe o visita em Berlim. Ela mora em Paris, com a filha, recém-casada. Tanya é a única irmã de Fyodor.
A partir daí lembranças da infância e do pai, um naturalista, colecionador de borboletas e explorador da Ásia Central, dado como mortos há anos, em 1918 ou 1919.
Um trecho bem bonito é quando ele pede a mãe que fale algo sobre o pai (115-117).
Lembranças do pai: "Por que fico tão triste? Suas capturas, suas observações, o som de sua voz nas palavras científicas, tudo isso, acho, eu preservarei. Mas isso ainda é tão pouco. Com a mesma relativa permanência gostaria de reter o que eu, talvez, mais amasse nele: sua viva masculinidade, inflexibilidade e independência, o frescor e o calor de sua personalidade, seu poder sobre todas as coisas que compreendia". (124)
Belíssimo também o devaneio que ele tem em relação às viagens do pai pela Ásia e a tentativa de compreender o que se passa na mente do próprio pai, mais afeito às viagem por terras longínquas do que à vida doméstica.
O capítulo é realmente muito bom. Melancólico, triste nas lembranças de um mundo, a velha Rússia, que desapareceu definitivamente, que existe apenas nas lembranças, em um passado que vai ficando cada vez mais remoto.
Capítulo Três: Fyodor está em uma novo quarto, alugado de um emigrado russo.
Se relaciona com Zina, enteada do seu locador.
Fyodor expressa sua vontade de escrever uma biografia de Chernishevski.
Capítulo Quatro: é um livro à parte. É a biografia de Chernishevski, o revolucionário russo do século XIX, que escreveu "O que fazer?", livro que inspirou a obra de mesmo nome de Lênin. Mas ao contrário de ser uma eulogia, é quase cômico. A respeito do biografado, o narrador afirma que "Tudo o que ele toca cai aos pedaços". Chernishevski é quase um bufão. Atrapalhado e confuso, sem rumo na vida, dedicado a projetos ilusórios, como a construção de um moto-perpétuo.
Capítulo Cinco: O livro de Fyodor é recebido com polêmicas. Algumas confusões acontecem e ele se prepara para escrever um outro livro, que muito parecido com a própria estória que é contada por Nabokov. Ele sonha com a volta do pai. Zina e ele ficam juntos, depois que a mãe e o padrasto vão embora de Berlim.
O narrador se alterna sem aviso e com frequência entre a primeira (e com fluxo de consciência) e a terceira pessoa. Muito experimentalismo. Fiquei curioso para saber o quanto Nabokov leu de Joyce. Uma dificuldade a mais. Exemplos escolhidos ao acaso dessa mudança de narrador:
"Esses nomes me eram desconhecidos. Não senti nenhuma vontade de passar noites na companhia de Vsevolod-Romanov..." (70) (Isso é Fyodor pensando) e pouco depois "Fyodor, de camiseta e tênis sem meias, passava a maior parte do dia em um banco azul no jardim público, um livro nos dedos bronzeados (71)
"Olhando por uma abertura de vidro, contra um fundo luminoso, ele viu suas próprias falanges escuras, nitidamente separadas. Com isso, com isso eu desembarco. Da barca de Caronte. Calçando também o outro pé, ele caminhou pelo carpete até o fim da loja e voltou, olhou de lado no espelho que ia até a altura do tornozelo e refletia tanto seu passo embelezado quanto a perna da calça, agora parecendo o dobro da idade que tinha"
O Capítulo Um se passa em Berlim, nos anos 1920. O personagem principal é um poeta russo no exílio em Berlim: Fyodor Godunov-Cherdyntsev. Ele lança um livro de poesias que trazem recordações da infância.
Os poemas entremeiam as lembranças, que se alternam com a resenha do livro de poemas, ao mesmo tempo em que o narrador-personagem está mudando para uma nova casa, em uma nova rua.
"Ao lê-los, ele os leu não só como palavras, mas como fretas entre palavras, como se deve fazer ao ler poesia?" (39)
O capítulo se mostra mais interessante a partir da reunião na casa de Chernishevski. O suicídio do jovem Yasha, filho do casal Chernishevski é impressionante.
Capítulo Dois: Lembranças da infância na Rússia. Quatro páginas bem difíceis, bem descritivas, até que ele sai do sonho e se vê novamente em Berlim, em um bonde, indo para uma aula. Depois, a mãe o visita em Berlim. Ela mora em Paris, com a filha, recém-casada. Tanya é a única irmã de Fyodor.
A partir daí lembranças da infância e do pai, um naturalista, colecionador de borboletas e explorador da Ásia Central, dado como mortos há anos, em 1918 ou 1919.
Um trecho bem bonito é quando ele pede a mãe que fale algo sobre o pai (115-117).
Lembranças do pai: "Por que fico tão triste? Suas capturas, suas observações, o som de sua voz nas palavras científicas, tudo isso, acho, eu preservarei. Mas isso ainda é tão pouco. Com a mesma relativa permanência gostaria de reter o que eu, talvez, mais amasse nele: sua viva masculinidade, inflexibilidade e independência, o frescor e o calor de sua personalidade, seu poder sobre todas as coisas que compreendia". (124)
Belíssimo também o devaneio que ele tem em relação às viagens do pai pela Ásia e a tentativa de compreender o que se passa na mente do próprio pai, mais afeito às viagem por terras longínquas do que à vida doméstica.
O capítulo é realmente muito bom. Melancólico, triste nas lembranças de um mundo, a velha Rússia, que desapareceu definitivamente, que existe apenas nas lembranças, em um passado que vai ficando cada vez mais remoto.
Capítulo Três: Fyodor está em uma novo quarto, alugado de um emigrado russo.
Se relaciona com Zina, enteada do seu locador.
Fyodor expressa sua vontade de escrever uma biografia de Chernishevski.
Capítulo Quatro: é um livro à parte. É a biografia de Chernishevski, o revolucionário russo do século XIX, que escreveu "O que fazer?", livro que inspirou a obra de mesmo nome de Lênin. Mas ao contrário de ser uma eulogia, é quase cômico. A respeito do biografado, o narrador afirma que "Tudo o que ele toca cai aos pedaços". Chernishevski é quase um bufão. Atrapalhado e confuso, sem rumo na vida, dedicado a projetos ilusórios, como a construção de um moto-perpétuo.
Capítulo Cinco: O livro de Fyodor é recebido com polêmicas. Algumas confusões acontecem e ele se prepara para escrever um outro livro, que muito parecido com a própria estória que é contada por Nabokov. Ele sonha com a volta do pai. Zina e ele ficam juntos, depois que a mãe e o padrasto vão embora de Berlim.