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"Digo, pois que, se a alma temperante e sensata é boa, a que não tem aquelas qualidades é má. Esta será a alma insensata e intemperante. - De acordo. - O homem sensato é, naturalmente, aquele que procede em relação aos deuses e aos homens de maneira que convém; seria insensato, se fizesse o que não convém. - É inevitável que assim seja. - Mas agir como convém relativamente aos homens é praticar a justiça; em relação aos deuses é praticar a piedade: ora praticar a justiça e a piedade é ser justo e pio. - Acho bem. - E é, necessariamente, ser também corajoso, porque o que é próprio de um homem corajoso não é procurar ou evitar aquilo que não deve ser procurado ou evitado, mas procurar ou evitar apenas aquilo que convém, que se trate de coisas, de pessoas, de prazeres ou de dores, suportando para tanto o que for necessário suportar."
(...) Sustendo, Cálicles, que o mais vergonhoso não é eu ser esbofeteado injustamente nem ver o meu corpo mutilado ou a minha bolsa cortada; mais vergonhoso e pior é o facto de me baterem, mutilarem ou despojarem, porque roubarem-te, reduzirem-me à escravidão, entrarem à força em minha casa, numa palavra, cometerem contra mim e contra o que me pertence uma injustiça, é pior e mais vergonhoso para o que a pratica do que para mim que a sofro."
SócratesLivro: "Górgias", Platão. Introdução, tradução do grego e notas de Manuel de Oliveira Pulquério
***
Em "Górgias" (Górgias pertencera à primeira geração de sofistas) Sócrates refuta das teorias de Cálicles, Polo e Górgias através do método que o imortalizou - o método socrático: este método assenta no diálogo e, através dele, o professor conduz o aluno ao auto-questionamento e reflexão. Trata-se de uma forma de decompor e de simplificar o raciocínio, através de um sistema de perguntas e respostas simples, que visam esclarecer e trazer à luz a verdade e a essência das teorias.
Ainda em jovem adulta estudei um outro diálogo, intitulado "Fédon", e esse estudo imersivo (digo-o porque se estendeu ao longo de um trimestre. É possível estudar uma obra intensamente e durante um largo período de tempo? Sim, evidentemente que é possível, e a nossa relação com os livros e autores sairá reforçada depois disso) acabaria por me tornar uma leitora atenta de Platão e, consequentemente, adepta dos métodos aplicados por Sócrates.
Neste livro assiste-se a um fenómeno interessante, os interlocutores de Sócrates vão abandonando gradualmente o diálogo, incapazes de o acompanhar, e o útlimo deles, Cálicles, acaba mesmo por se recusar a manter o sistema de pergunta - resposta e "obriga", em certo sentido, Sócrates a sistematizar tudo o que fora discutido e refutado, mantendo-se quase à margem do diálogo. Outro aspecto interessante, e que abunda neste diálogo, é a quantidade de ironia e de sarcasmo nos discursos de ambas as partes, sofistas e Sócrates.
(...) Sustendo, Cálicles, que o mais vergonhoso não é eu ser esbofeteado injustamente nem ver o meu corpo mutilado ou a minha bolsa cortada; mais vergonhoso e pior é o facto de me baterem, mutilarem ou despojarem, porque roubarem-te, reduzirem-me à escravidão, entrarem à força em minha casa, numa palavra, cometerem contra mim e contra o que me pertence uma injustiça, é pior e mais vergonhoso para o que a pratica do que para mim que a sofro."
SócratesLivro: "Górgias", Platão. Introdução, tradução do grego e notas de Manuel de Oliveira Pulquério
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Em "Górgias" (Górgias pertencera à primeira geração de sofistas) Sócrates refuta das teorias de Cálicles, Polo e Górgias através do método que o imortalizou - o método socrático: este método assenta no diálogo e, através dele, o professor conduz o aluno ao auto-questionamento e reflexão. Trata-se de uma forma de decompor e de simplificar o raciocínio, através de um sistema de perguntas e respostas simples, que visam esclarecer e trazer à luz a verdade e a essência das teorias.
Ainda em jovem adulta estudei um outro diálogo, intitulado "Fédon", e esse estudo imersivo (digo-o porque se estendeu ao longo de um trimestre. É possível estudar uma obra intensamente e durante um largo período de tempo? Sim, evidentemente que é possível, e a nossa relação com os livros e autores sairá reforçada depois disso) acabaria por me tornar uma leitora atenta de Platão e, consequentemente, adepta dos métodos aplicados por Sócrates.
Neste livro assiste-se a um fenómeno interessante, os interlocutores de Sócrates vão abandonando gradualmente o diálogo, incapazes de o acompanhar, e o útlimo deles, Cálicles, acaba mesmo por se recusar a manter o sistema de pergunta - resposta e "obriga", em certo sentido, Sócrates a sistematizar tudo o que fora discutido e refutado, mantendo-se quase à margem do diálogo. Outro aspecto interessante, e que abunda neste diálogo, é a quantidade de ironia e de sarcasmo nos discursos de ambas as partes, sofistas e Sócrates.