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Esta biografia autorizada de Nelson Mandela, coordenada por, entre outros, dois dos seus companheiros de cativeiro em Robben Island, aparece-nos numa edição interessante, com motivos de relevo no que diz respeito ao acervo fotográfico e documental e construída como um documentário para televisão: a narrativa dos factos é nos apresentada intercalada com testemunhos directos de um sem número de pessoas que de perto privaram com o Homem. De Bill Clinton a Desmond Tutu, que assina o prefácio, é um desfile de textos mais ou menos convergentes no reconhecimento da grandeza de Nelson Mandela. O livro perde-se aí: é tremendamente hagiográfico, tem por objectivo único e último a exaltação e santificação de Mandela. Não é imerecido, Mandela é uma das figuras maiores do século XX, um herói da democracia e da inclusão, um homem de carácter - de quantos políticos podemos nós dizer isto?
Mas é, de facto, um livro de louvor, não tem objectividade histórica. Tive a oportunidade de ler a autobiografia de Mandela, esse sim um livro extraordinariamente interessante, cuja objectividade não desmerece por ser escrita na primeira pessoa, é um documento histórico de incalculável valor, até pela história que está associada à sua escrita.
Ainda assim, há dados interessantes a reter deste livro. A coragem de Mandela não precisa de ser demonstrada por testemunhos, é a História que a fixa, escrita na pedra. A atitude de Mandela durante o julgamento de Rivonia, em que enfrentava um sério risco de condenação à morte, mostra para lá de qualquer dúvida, a têmpera deste homem. Não, o que sobressai deste livro, e que é para mim fascinante, é o comportamento público habitual de Nelson Mandela, descrito unanimemente como o de um homem de extrema cortesia e delicadeza, não adaptando as suas maneiras à categoria do seu interlocutor, antes tratando todos por igual. Ser cortês e gentil é, nos dias que correm, considerado um sinal de fraqueza. Numa música dos The Smiths, o Morrisey canta que "it takes guts to be gentle and kind" e eu não posso estar mais de acordo. Pelo menos tanta coragem como estar disposto a morrer por aquilo em que se acredita. Mandela tinha coragem para ambas as coisas e por isso foi o extraordinário farol que guiou e inspirou milhões de pessoas de todas as cores e todos os credos no mundo inteiro.
p.s. - leio este texto e apercebo-me de que, pelo tom, podia fazer parte deste livro, o que também quer dizer que entendo perfeitamente a dificuldade que reside em escrever sobre Mandela sem se ser hiperbólico. Bom, bem vistas as coisas, a culpa nem é nossa: é dele.
Mas é, de facto, um livro de louvor, não tem objectividade histórica. Tive a oportunidade de ler a autobiografia de Mandela, esse sim um livro extraordinariamente interessante, cuja objectividade não desmerece por ser escrita na primeira pessoa, é um documento histórico de incalculável valor, até pela história que está associada à sua escrita.
Ainda assim, há dados interessantes a reter deste livro. A coragem de Mandela não precisa de ser demonstrada por testemunhos, é a História que a fixa, escrita na pedra. A atitude de Mandela durante o julgamento de Rivonia, em que enfrentava um sério risco de condenação à morte, mostra para lá de qualquer dúvida, a têmpera deste homem. Não, o que sobressai deste livro, e que é para mim fascinante, é o comportamento público habitual de Nelson Mandela, descrito unanimemente como o de um homem de extrema cortesia e delicadeza, não adaptando as suas maneiras à categoria do seu interlocutor, antes tratando todos por igual. Ser cortês e gentil é, nos dias que correm, considerado um sinal de fraqueza. Numa música dos The Smiths, o Morrisey canta que "it takes guts to be gentle and kind" e eu não posso estar mais de acordo. Pelo menos tanta coragem como estar disposto a morrer por aquilo em que se acredita. Mandela tinha coragem para ambas as coisas e por isso foi o extraordinário farol que guiou e inspirou milhões de pessoas de todas as cores e todos os credos no mundo inteiro.
p.s. - leio este texto e apercebo-me de que, pelo tom, podia fazer parte deste livro, o que também quer dizer que entendo perfeitamente a dificuldade que reside em escrever sobre Mandela sem se ser hiperbólico. Bom, bem vistas as coisas, a culpa nem é nossa: é dele.