No terceiro capítulo, há uma leitura muito pertinente sobre a temporalidade e sobre a força particular da palavra: o parentesco não é simplesmente uma situação em que Antígona se encontra, mas um conjunto de práticas que ela própria performa, relações que são reinstituídas no tempo precisamente por meio da prática de sua repetição.
Cada ato é o efeito temporal aparente de alguma palavra pronunciada anteriormente, e assim se estabelece a temporalidade de um atraso trágico, segundo o qual tudo o que acontece já aconteceu e virá a aparecer como o que já vinha acontecendo o tempo todo, uma palavra e um ato enredados e estendidos ao longo do tempo pela força da repetição.
A palavra criptografada traz dentro de si uma história irrecuperável, uma história que, em virtude de sua própria irrecuperabilidade e sua enigmática vida futura na forma de palavras, carrega uma força cuja origem e final não podem ser totalmente determinados. Antígona fala a linguagem do direito da qual está excluída, participando da linguagem da reivindicação de direitos com a qual não é possível uma identificação final. Se ela é humana, então o humano entrou em catacrese: já não sabemos mais qual o seu uso adequado.
Catacrese é a figura de linguagem que consiste no uso de uma palavra ou expressão que não descreve com exatidão o que se quer expressar, mas é adotada por não haver uma outra palavra apropriada